Empresários mudam planos para encarar ano difícil; veja erros a evitar

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O desaquecimento da economia brasileira chegou ao mercado de ossos artificiais: a empresa Nacional Ossos, de Jaú (SP), que os produz há 20 anos para uso em universidades, teve recuo de 20% nas vendas por aqui em 2014.

Muitos congressos médicos deixaram de ser feitos e, nos que aconteciam, um mesmo osso era usado por mais de um estudante para economizar, explica o sócio Paulo Costa e Silva Filho, 43.

Para retomar o espaço perdido, a empresa decidiu lançar versões econômicas dos produtos, como um molde de mandíbula com só um lado e custo 25% menor.

Também investiram em equipamentos mais eficientes e diminuíram em 10% a equipe, para 45 funcionários, mantendo a produção.

Essa busca por conservar lucratividade, produtividade e inovação com menos recursos deve ser um dos principais desafios de pequenas e médias empresas em 2015.

O cenário econômico promete ser pouco convidativo, com inflação e juros em alta e crescimento perto de zero.

O IPCA (índice de inflação oficial) acumula alta de 7,14% entre janeiro de 2014 e janeiro de 2015. Acima da meta do governo (6,5%), se reflete em custos maiores na hora de comprar de fornecedores.

Outro ponto negativo é a taxa básica de juros Selic em 12,25% ao ano, que significa alto custo para pegar dinheiro emprestado (encarecendo investimentos, por exemplo).

Ele conta que houve um aumento de 20% na demanda por cursos em janeiro, a qual ele atribui à maior preocupação dos alunos com qualificação em um ano difícil.

Por outro lado, a inadimplência está em alta. Foi de 3% para 5% no final de 2014, resultado do maior aperto financeiro dos alunos. A empresa adiou investimentos, como a ampliação do centro de treinamento à distância.

Na loja de brinquedos, o desafio é lidar com as mudanças da taxa de câmbio, pois a maioria dos produtos que vende é importada.

Ele conta que para se proteger de altas do dólar, que na quinta-feira (12) chegou a R$ 2,879, maior valor desde 2004, passou a fazer maiores compras de estoque.

Os brinquedos, antes comprados mensalmente, agora são encomendados em maior volume a cada dois meses. A ideia é comprar mais itens antes de novas altas da moeda.

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O país também passa por momento de cortes de gastos do governo, que busca reverter o cenário desfavorável no futuro. No curto prazo, estas medidas estancam a movimentação econômica.

Por fim, as crises de abastecimento de água e energia podem se intensificar durante esse ano.

Com todos estes desafios no cenário, empreendedores devem prestar atenção nos indicadores do desempenho de suas companhias, afirma Marcelo Scharra, consultor da Inside Business Design. “O empresário precisa namorar os números”, diz.

Ele sugere que, além dos resultados mais imediatos de vendas, se tenha um controle rígido sobre o custos da empresa, o número de clientes que precisam ser atendidos para que cada negócio seja fechado e quanto se gasta para cada operação dessas (veja mais dicas abaixo).

A start-up BetaLabs passou a usar essa estratégia em janeiro deste ano.

Luan Gabellini, 25, um dos fundadores, conta que a desenvolvedora de softwares para gestão passou a usar um sistema que contabiliza as horas que cada profissional gasta por projeto feito.

“Como vínhamos em crescimento forte, não havia controle específico da quantidade de horas que gastávamos com cada cliente. Olhávamos só os projetos fechados.”

A empresa, criada em 2010, vinha dobrando seu tamanho ano após ano (o que é comum em empresas nesse estágio). Para 2015, a previsão foi cortada para 60% e a ampliação da equipe, adiada.

CONHEÇA SEU NICHO

Embora as previsões para a economia indiquem que o ano será de provação para empreendedores, nem todos terão as mesmas dificuldades, diz Marcelo Moreira, coordenador de pesquisas do Sebrae-SP.

Segundo ele, cabe ao empresário se manter atento a oportunidades que surjam e entender as tendências específicas de seu setor.

Victor Jacques, 35, por exemplo, percebe movimentos diferentes nas empresas que possui. Ele é dono da Trainning, escola especializada em cursos na área de tecnologia e negócios, e da ToyShow, loja de brinquedos para colecionadores.

Fonte: Folha Online