8 verdades que você deve encarar sobre a aposentadoria

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Quanto economizar para a aposentadoria é uma fórmula mágica buscada por muitas pessoas que tentam planejar a renda no futuro.

Mas esse cálculo não irá necessariamente refletir a realidade, por isso não é uma garantia de que você terá uma aposentadoria tranquila.

O valor que será necessário ao se aposentar depende de muitos fatores que são difíceis de prever. “Nem as instituições financeiras se arriscam a oferecer benefícios pré-definidos”, diz Humberto Veiga, consultor financeiro e autor do livro “Tranquilidade financeira: saiba como investir no seu futuro”.

Como resultado, muitas pessoas podem chegar à terceira idade com grandes limitações financeiras, segundo Mauro Machado, consultor sênior de previdência privada da consultoria Mercer. “Os poupadores se deparam com despesas que não param de crescer e concluem que não se prepararam para ter a montanha de dinheiro necessária nessa fase da vida”.

Para minimizar esse risco, o poupador deve iniciar o planejamento da aposentadoria o quanto antes e ter consciência do que deve incluir no cálculo do valor necessário para viver bem mais tarde.

Veja a seguir oito fatos que devem ser encarados por quem pretende ter conforto financeiro no futuro:

1) Você vai viver mais e precisará de mais dinheiro

O aumento da expectativa de vida deve ser incluído no cálculo da renda que deve ser poupada para a aposentadoria, pois exige o aumento do valor da reserva financeira para o futuro.

A expectativa de vida do brasileiro ao nascer, calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atingiu 74,9 anos em 2013, último dado disponível.

No início da década de 80, essa estimativa era de 62,5 anos. Ou seja, o aumento na expectativa de vida do brasileiro no período aumentou 12,4 anos, em média.

A estimativa dos anos de sobrevida varia conforme a idade do poupador e deve ser considerada no planejamento, assim como o nível de renda, diz Veiga. Quanto mais dinheiro o poupador tem, maiores são suas chances de acessar tratamentos médicos mais sofisticados e, consequentemente, viver mais.

2) Se aposentar mais cedo ficou mais difícil

O objetivo se aposentar o quanto antes deve ser analisado pelos brasileiros, segundo os consultores financeiros ouvidos por EXAME.com.

Um estudo sobre aposentadoria realizado pelo HSBC em 2013 apontou que o brasileiro espera se aposentar aos 46 anos, mais cedo do que os entrevistados de outros 14 países pesquisados, e bem antes do que a média global calculada pelo levantamento, de 59 anos.

Segundo Gustavo Cerbasi, consultor financeiro e autor do livro “Adeus Aposentadoria”, com a tendência de aumento da expectativa de vida, ficou mais arriscado depender da previdência social, concedida pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e dos investimentos feitos por conta própria. “É mais provável que a renda necessária para ter conforto no futuro acabe antes do prazo esperado”.

Para Cerbasi, o desejo de se aposentar mais cedo pode esconder uma insatisfação do poupador com seu emprego. Essa frustração faz com que a pessoa busque trabalhar mais para se livrar mais cedo do “fardo”.

Nesse caso, o consultor financeiro recomenda que o poupador busque realizar um projeto que o motive a continuar trabalhando, ainda que em um ritmo mais lento. “Além de diminuir a urgência da aposentadoria, o projeto pode aumentar a renda nessa fase da vida”.

3) Você deve depender cada vez menos do benefício do governo

Já é um consenso entre os especialistas a recomendação de que o brasileiro não deve mais depender da aposentadoria concedida pelo governo se o objetivo é ter uma vida confortável no futuro.

Com o aumento da expectativa de vida, o valor do benefício de quem se aposenta por tempo de contribuição é reduzido. Isso acontece por causa do chamado fator previdenciário.

Para calcular a aposentadoria que será recebida, o INSS inclui no cálculo algumas variáveis, como a idade, o tempo de contribuição e o fator previdenciário. Ocorre que esse fator é alterado toda vez que aumenta a expectativa de vida calculada pelo IBGE, de maneira que a cada ano o seu efeito redutor sobre o valor do benefício fique maior.

Com isso, a cada ano fica mais desvantajoso se aposentar mais cedo, mesmo se o trabalhador já tiver cumprido o tempo de contribuição exigido para receber sua aposentadoria.

Segundo o levantamento do HSBC, 46% dos entrevistados no Brasil declararam depender do benefício concedido pelo governo na aposentadoria. O número só não é maior do que o registrado no México (54%) e na França (83%).

Para Machado, da Mercer, essa dependência dos valores da previdência social precisa diminuir. “O brasileiro ainda pensa que vive em um país jovem, como o da década de 80. Mas a população envelheceu desde então, o que reduziu o valor do benefício”.

Valores menores concedidos pelo governo já são realidade em países como população mais idosa, como Japão, Europa e Estados Unidos. “Ajustar os valores é necessário para não colocar todo o sistema de benefícios em risco”, diz Cerbasi.

4) Sua capacidade de poupança deve ser cada vez maior

Especialistas da Mercer recomendam ter como renda na aposentadoria ao menos 80% do valor do último salário recebido. Mas o ideal é receber 100% do último salário no período de inatividade para manter o padrão de vida.

O valor poupado para a aposentadoria deve corresponder a, no mínimo, 10% da renda mensal do poupador. Para quem não tem possibilidade de poupar o valor mínimo indicado, Cerbasi recomenda poupar o possível e reduzir gastos até atingir esse porcentual.

A prioridade deve ser o corte de despesas com automóveis e outros bens materiais. “Outros gastos, como despesas com educação, permitem ao poupador se preparar melhor para o futuro. Já gastos com lazer devem ser preservados porque diminuem a frustração causada pela necessidade de economizar”, diz Cerbasi.

Especialistas da Mercer também recomendam que o porcentual da renda a ser economizado para a aposentadoria aumente ao longo dos anos, conforme a evolução da capacidade financeira. O aumento deve ser progressivo até que a capacidade de poupança atinja 19% do salário mensal.

Quanto mais semelhante ao último salário recebido pelo poupador for a renda recebida durante a aposentadoria, menor será a necessidade de rever despesas, segundo pesquisa da Mercer com mais de 11 mil aposentados no país, divulgada no final do ano passado.

O levantamento aponta que, dentre os aposentados que conseguiram ter uma renda correspondente a pelo menos 80% do valor do último salário na aposentadoria, apenas 34% tiveram de rever despesas.

O número aumentou para 61% no caso de quem economizou de 40% a 80% do salário, e subiu para 65% para quem guardou menos de 40% do valor do último salário recebido antes de se aposentar.

5) Você precisa buscar outras fontes de renda no futuro

Continuar a trabalhar após se aposentar já é uma realidade. Segundo pesquisa da Mercer, 31% dos aposentados continuam a ter trabalhos remunerados nessa fase da vida. O porcentual sobe para 42% entre quem tem renda acima de 10 mil reais.

A pesquisa do HSBC aponta que, mesmo depois de se aposentar, os brasileiros estariam dispostos a trabalhar até os 57 anos. O número fica abaixo da média mundial, de 60 anos.

Para Machado, da Mercer, esse objetivo também deve ser revisto. “Ou o poupador precisará guardar ainda mais dinheiro ou terá de diminuir seu padrão de vida de forma bastante significativa para realizar esse desejo agora”.

Iniciar uma segunda carreira mais prazerosa ou começar a empreender a partir dos 45 anos pode ajudar a complementar a renda no futuro. “Completar 65 anos não deveria ser visto como uma data limite para se aposentar. Com uma boa qualidade de vida, o poupador pode conseguir trabalhar até os 80 anos”, diz Cerbasi.

Essa preparação para obter uma renda extra no futuro deve começar pelo menos 15 anos antes da data estimada para a aposentadoria. A opção, no entanto, exige experiência e também recursos financeiros, seja para fazer o investimento inicial no negócio próprio quanto para bancar eventuais despesas com qualificação.

6) Aplicações de longo prazo devem ser monitoradas

Os investimentos de longo prazo precisam ser acompanhados pelo poupador durante a acumulação da reserva financeira para a aposentadoria. Além de ampliar a possibilidade de ganhos, o hábito também evita prejuízos com as aplicações financeiras.

De tempos em tempos, é recomendável corrigir pela inflação o valor já acumulado para a aposentadoria para verificar se será necessário mudar o planejamento. Esse é um ponto importante do projeto para a aposentadoria, já que no longo prazo a inflação pode corroer boa parte do montante poupado.

Impostos e taxas que incidem sobre os investimentos também devem ser incluídos no cálculo, diz Cerbasi.

O investidor também deve analisar os benefícios oferecidos pelo plano de previdência da empresa, diz Machado, da Mercer. “O beneficiário deve comparar o plano com as rentabilidades que são oferecidas por diversas aplicações no mercado financeiro”.

Cerbasi recomenda que a carteira de investimentos também seja alterada diante de mudanças no cenário econômico. O investidor pode buscar aplicações com maior rentabilidade, de acordo com o cenário da economia e seu perfil de risco.

Uma maior experiência com aplicações financeiras e maior tempo disponível permite que poupadores possam gerenciar mais de perto a carteira de aplicações com o passar dos anos, diz Cerbasi.

Na opinião do consultor financeiro, em vez de buscar ganhar dinheiro com investimentos mais arriscados, o poupador mais jovem deveria se preocupar mais em obter conhecimentos relacionados à carreira e projetos de empreendedorismo que possam ser realizados no futuro. “Dessa forma é possível criar um patrimônio mais consistente e sustentável ao longo da vida”.

7) Se prepare para manter ou aumentar o nível de gastos na aposentadoria

A crença de que as despesas diminuem na fase mais avançada da vida é um mito. Pesquisa da Mercer aponta que, enquanto gastos com educação e lazer são reduzidos em 16% e, com transporte, em 13%, os gastos médicos podem aumentar 24% nessa fase da vida.

Ou seja, o aumento das despesas com saúde praticamente elimina a economia obtida com outros tipos de gastos. “A assistência médica se tornou um problema no país. As operadoras oferecem poucos planos individuais, que costumam ter custos muito elevados”, diz Machado, da Mercer.

Já os gastos com habitação e alimentação tendem a se manter nessa fase da vida e correspondem, juntos, a 47% da cesta de consumo do aposentado, de acordo com analistas da consultoria.

Um potencial aumento de custos durante a aposentadoria torna necessária uma renda crescente nessa fase da vida, que pode ser obtida tanto com ganhos maiores obtidos em investimentos como em um trabalho remunerado ou negócio próprio.

8) Fique atento a eventos inesperados

Alguns acontecimentos inesperados, como a permanência de um filho em casa por um tempo maior do que o previsto, um divórcio e a chegada de um bebê ou um casamento em uma idade mais avançada devem ser considerados no cálculo do valor necessário ao se aposentar.

Pode ser prudente, por exemplo, incluir gastos com educação do filho pequeno durante o período de aposentadoria. “O poupador deve contar com a possibilidade de ainda ter dependentes financeiros ao planejar a renda futura”, diz Machado, da Mercer.

Fonte: Exame